O agricultor José Amaro Martins de Souza, o Neco, é o mais antigo vereador de São João da Barra. Puxador de legenda do PMDB, está no quarto mandato, que abriu mão de exercer para aceitar o desafio de comandar a secretaria municipal de Assistência Social, Trabalho e Direitos Humanos. Amigo e fiel escudeiro da prefeita Carla Machado (PMDB), temperamento tranquilo e boa praça, é o preferido dela para a sucessão, mas seu nome não é o único citado entre os governistas.
O blog conversou com Neco na noite de quinta-feira. No mesmo momento, na Câmara, o vereador Alexandre Rosa (PPS) anunciava que estava deixando o G-5 para seguir uma linha independente. A notícia chegou quase no fim da entrevista e Neco falou também sobre o assunto, já prevendo e aprovando a reaproximação do antigo aliado.
Com a novidade, o blog inverteu a pauta e, na mesma noite, já início da madrugada, conversou com Alexandre e postou de frente a entrevista. Segue agora, finalmente, o bate-papo com Neco.
Você é pré-candidato a prefeito?
Sou pré-candidato sim.
Se você é o nome para a sucessão, inclusive com a preferência da prefeita Carla Machado, por que há tantas pré-candidaturas governistas? Por que o martelo não é logo batido para a sua candidatura?
Se a prefeita, como você disse, já declarou a preferência pela minha candidatura, isso não quer dizer que é uma decisão tomada. Somos um grupo, pensamos como grupo. Se outro nome estiver em situação melhor nas pesquisas, estarei de coração aberto para aceitar e apoiar. Eu faço o meu trabalho.
E como estão as pesquisas?
Eu não sei agora. Não estou preocupado com pesquisas agora. Estou trabalhando na secretaria, estou contribuindo com o governo.
Mas essa demora na definição do nome não gera desgaste?
Não, de jeito nenhum. O grupo da prefeita é unido. Ela sempre se coloca muito bem com sua liderança. Todos vão aceitar muito bem o que for melhor.
Os críticos à sua candidatura dizem que a prefeita prefere você porque será uma continuidade e seu mandato não terá independência. Isso procede?
Sempre fui independente e nunca vou deixar de ser. A prefeita Carla confia muito em mim. Eu já provei muitas vezes que nunca vou trair sua confiança. Somos amigos desde quando ela não estava no poder. Contei com ela, sou grato. Mas tenho minhas próprias ideias e agirei com independência.
O G-5 surgiu por sua insistência em se manter na presidência da Câmara. Você ficou dois biênios e quis o terceiro, levando Alexandre Rosa (PPS) e Gersinho (PMDB) para a oposição. Você não se sente culpado pelo fato de a prefeita ter perdido a maioria?
Não vejo desta forma. Não estava cuidando da mesa diretora. Nem Carla. Estávamos na campanha de Rosinha em Campos no segundo turno. Enquanto isso o G-5 foi se reunindo, se formando. Até aí eu não tinha me lançado. Só depois foi que me lancei na esperança de reverter o quadro, porque Alexandre foi eleito no nosso palanque, Gersinho também e a gente esperava que pelo menos um ficasse com a gente. Mas não teve jeito. Não fui eu que antecipei o processo da mesa, foram eles. Eu já tinha o apoio dos três e só faltava mais um.
Carla não esconde a preferência por você, mas não fecha a questão de uma vez no grupo e o processo da sucessão pelo lado governista continua solto. Diante deste quadro, quem seria seu maior adversário hoje: Alexandre, Gersinho, Betinho Dauaire ou os adversários internos, o fogo amigo?
Hoje seria o vereador Alexandre, porque mora na sede do município, está junto da população diretamente. É o nome mais forte. Mas quem for lançado pelo governo será o mais forte e Alexandre o segundo.
Como agricultor, como você está vendo o processo de desapropriações no quinto distrito?
A minha opinião é que as empresas ou até a Codin marquem reuniões com os proprietários do quinto distrito. Eu jamais seria contra o complexo portuário. Eu vim do corte de cana e vi a dificuldade do povo do quinto distrito com a questão do emprego. Hoje tem muita gente trabalhando no porto. Mas quem quiser viver da agricultura, tem área para isso. O distrito industrial não é todo o quinto. O que está faltando, na minha opinião, é mais informação. Na área industrial o valor mínimo pelo alqueire é R$ 60 mil e isso é só areia. Pode chegar até R$ 130 mil se for uma terra produtiva. Fora os benefícios da lavoura, do gado. Isso é bom. Quanto valiam antes as terras? Um terreno no Açu custava R$ 2,3 mil e agora custa R$ 20,3 mil. Mas o que eu acho é que precisa mais diálogo, uma conversa mais clara. Já pedi isso à Codin. Pedi que procurem a população do quinto e conversem. Muitas pessoas de fora ficam colocando terror. Isso confunde.
Falando nisso, como você a participação de Garotinho em defesa dos produtores do quinto distrito?
Nessa briga nós já estamos há muito tempo. Se ele está chegando agora parabéns para ele. A prefeita Carla fez várias reuniões explicando a situação, colocou advogados à disposição. Quer vir agora? Beleza. É um deputado federal, se quer somar vem somar, mas já estamos nisso não é de hoje. Agora, eu não creio que o deputado seja contra as obras do porto do Açu.
Na última eleição da mesa diretora da Câmara todos fecharam com Gersinho e apenas seu voto destoou. O que aconteceu? Você votou errado?
O que aconteceu foi que eu fui para a sessão brincando o tempo todo com Franquis que votaria nele. Não seria para presidente, mas para secretário. Então eu esqueci e votei para presidente. Foi só isso. Mas fiz questão de me justificar. Eu poderia deixar quieto e provocar uma dúvida entre eles. Mas fui verdadeiro.
Voltando à sua pretensão de ser prefeito, o que você faria no governo igual e diferente do governo Carla?
Igual seria a dedicação com o município. Carla é uma pessoa que mora em São João da Barra, está próxima da população e tem feito muito, trabalha com muito carinho. Diferente seria o horário. Ela acorda mais tarde e eu gosto de levantar mais cedo. Ela dobra a noite trabalhando e eu não tenho esse pique de ficar a noite sem dormir. Vou para a cama 21h30, 22h, no máximo, e acordo às 5h. Serei um prefeito mais do dia.
Mas o que hoje ainda não está bom?
A saúde precisa melhorar. Quando tinha o Inbesps, até a decisão jurídica, a situação era melhor, inclusive com alta complexidade. Depois que terminou a saúde piorou. Teve que ter o concurso e o problema é que muitos médicos não vão trabalhar. Não são todos, claro, é um minoria, mas que afeta toda a estrutura. Tem médico que faz quatro plantões por mês, então pega dois atestados, falta mais um e pronto, praticamente falta o mês todo. Depois do concurso piorou. Mas a partir deste ano a saúde vai estar melhor.
E a educação também não precisa melhorar? Os índices estão ruins.
Tem que melhorar, mas já avançou muito. Quantas pessoas hoje podem cursar faculdade por causa das bolsas? O jovem do quinto distrito, que tinha essa realidade distante, está indo para a faculdade. Saem dois ônibus todo dia do quinto.
Você está falando do ensino superior, mas a questão é o ensino básico.
Sim, mas vai melhorar. Temos que nos concentrar nessas áreas.
Sim, mas vai melhorar. Temos que nos concentrar nessas áreas.
Com tantas pré-candidaturas colocadas e tanta reviravolta você espera uma disputa ainda mais acirrada em 2012?
Acho que não. Há muitas candidaturas sendo lançadas.
Mas na hora H não ficam dois?
Se ficar será melhor. Eu gosto muito de desafios.
Com você vê a decisão de deixar o G-5, que o vereador Alexandre acaba de tomar? Ele poderia ser o candidato do grupo de situação?
Todos que estão no grupo têm chance.
Mas não seria complicado o processo de aceitação, de reaproximação?
Não sei. Existem muitas pessoas no governo que sempre gostaram de Alexandre. Ele que se afastou.
Ele merece uma segunda chance?
Com certeza. Ele está chegando como o salvador da pátria. O verão foi muito ruim. O G-5 enfrentou desgaste com o corte nos recursos dos shows. E não foi só o verão. Não foi possível aumentar o cartão cidadão também e outras coisas. Alexandre está retornando à casa dele, que é o governo.
Informações: Blog Entrelinhas
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