terça-feira, 26 de abril de 2011

NOTÍCIAS DA REGIÃO

Enquanto isso no Açu...

Produtores do Açu ainda à espera de um milagre

 Rafael Vargas

Descrentes em relação ao governo municipal e sobre o plano já traçado de reassentamento de suas famílias, os produtores rurais da localidade de Água Preta, situada no 5º distrito do município de São João da Barra, estão se recusando a deixar suas lavouras para que seja instalado o Corredor Logístico do Porto do Açu, que irá ligar o ramal ferroviário do Es-pírito Santo e a BR-101 ao Superporto do Açu. Apesar de admitirem a importância do projeto para a região, milhares de moradores do local esperam que a prefeita Carla Machado (PMDB) recorra a favor dos cerca de dois mil trabalhadores rurais daquela região, já em processo de desapropriação, mas, a grande maioria das famílias que ali vivem está à espera de um milagre.

A produtora rural Ivonete Silva Almeida afirma que, há mais de cem anos, seus familiares residem no local e que não vai aceitar nenhum acordo, seja com a prefeitura de São João da Barra ou com qualquer empresa. Ela afirma que não é contra ao progresso da região, mas pede as autoridades municipais que o trajeto do Corredor Logístico seja desviado para o bem dos trabalhadores. “Estão indo as casas das pessoas junto com a polícia, cortando as cercas e oferecendo dinheiro, mas minha casa não está à venda. Nós não queremos sair daqui por dinheiro nenhum porque vivi minha vida inteira aqui. Foi aqui que eu e os meus familiares nos criamos e é assim há gerações. Há um mês, umas pessoas vieram aqui e me pediram para medir o meu terreno, mas eu não permiti que entrassem. Já que este Corredor Logístico tem que passar, que passe em outras terras onde não existe uma lavoura. A prefeita não pode fazer isso com a gente. Essa terra é da minha família há mais de cem anos e tenho parentes que foram sepultados aqui, em nossas terras, de onde tiramos o nosso sustento. Levamos a nossa vida de forma digna e honesta, se nos tirarem daqui, o que será de nossas vidas?”, desabafa.

Já o comerciante Francisco Carlos Gomes conta que o terreno onde seu pai, um senhor de 86 anos, mora já foi medido sem autorização e que a grande maioria dos moradores da localidade de Água Preta não querem saber de sair do local. Ele afirma que poucos são os que já negociaram suas terras.

— Nasci aqui, trabalho aqui, minha família é daqui e meus clientes também. Ainda não re-cebi ninguém para me fazer proposta pelas minhas terras. Tem gente que aceita largar tu-do que construiu aqui, mas eu não quero saber de nada disso. Não tem conversa — disse.

Alguns produtores do local se recusaram a dar entrevista à equipe da Folha alegando que já haviam falado com a im-prensa e que nada havia sido noticiado sobre a real situação vivenciada na região. Outros se recusaram a comentar qual-quer participação de políticos - a favor ou contra — na questão das desapropriações das terras do 5º distrito.

“Dinheiro não compra a dignidade”

O trabalhador rural José Roberto Almeida, 49 anos, contou que trabalha na lavoura desde os seis anos no mesmo local, local este que, segundo ele, acabou com a fome de seus mais de 100 familiares que também trabalham na região. Ele declarou que, ao desapropriar terras produtivas, os governantes estão desrespeitando os milhões de trabalhadores brasileiros que trabalham todos os dias para matar a “fome de quem tem fome no país”.

— Não tenho estudo e não sou contra a nada que eles querem fazer pelo progresso, mas ter respeito ao homem trabalhador seria a melhor solução para o Brasil. Se faltar alimento, acaba o país. Se os governantes não sabem disso, que venham aqui para conhecer nosso trabalho para entender o que eles estão fazendo aqui em nossa região. Quem sabe dessa terra sou eu, quem são eles para escolher outra área como a fazenda Palacete para eu trabalhar? Essas terras são da minha família desde muito antes de eu nascer. Os governantes podem ter estudo, mas não sabem de nada sobre a lavoura e só aparecem aqui para tentar se aproveitar de gente simples e trabalhadora. Queria muito que a prefeita, o governador e a presidente Dilma viessem aqui para eu poder explicar o que está acontecendo. Eles estão nos faltando com o respeito e não há dinheiro nesse Mundo que compre a dignidade e o respeito de um homem trabalhador — desabafa.

Informações: Folha da Manhã

Nota: Pelo jeito, há ainda muito o que se conversar. Os produtores rurais não estão confiantes o bastante, para sair de suas terras. O poder público não tem passado veracidade. Há muito disse-me-disse e isso só tem atrapalhado. Na verdade, há todo um aspecto sentimental envolvido nesse caso. Sair de terras em que eles moram há anos, por gerações, não é fácil. Espero, sinceramente, que haja o devido respeito para com esses cidadãos sanjoanenses que amam esta terra mais do que qualquer forasteiro que descobriu essas bandas por agora, tratando-a como uma nova El Dorado.
Se não respeitarem os cidadãos, o que esperar? Afinal, o que é São João da Barra, além de seus moradores?

Paulo Jr.

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